Mundo - Manifestantes clamam por ajuda internacional

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

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População pede liberdade para a Síria, que vive há mais de 40 anos sob a ditadura da família Assad. Os sírios esperam que com a chegada de observadores, Bashar al Assad deixe o poder
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Lejeune Mirhan: conflitos na Tunísia, Egito, Líbia, Síria e Iêmen surpreenderam pela intensidade e rapidez com que ocorreram ao longo do ano
Durante visita, monitores da Liga Árabe puderam observar ainda quão complexa é a situação do país

Damasco Dezenas de milhares de manifestantes exigiram ontem, na cidade síria de Homs, proteção internacional aos observadores da Liga Árabe que verificam o cumprimento de um acordo de paz por parte do regime do presidente sírio Bashar al Assad. Os manifestantes protestaram assim que os monitores chegaram a Homs. A Liga Árabe afirma que o primeiro dia dos observadores na cidade foi "muito bom".

Homs tem sido um dos principais focos de resistência dos militantes que exigem a saída de Assad. Segundo ativistas de oposição, 13 pessoas foram mortas ontem pelas forças de segurança na cidade.

Relatos indicam que os tanques do exército foram retirados da cidade horas antes da chegada da delegação. No entanto, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, com sede em Londres, afirma que vários tanques permaneceram em Homs, escondidos dentro de prédios.

Mortes

A Organização das Nações Unidas (ONU) e grupos de defesa dos direitos humanos estimam que 5 mil pessoas já morreram devido a choques entre ativistas e forças do governo desde o início de uma onda de protestos contra o regime, em março.

Os monitores visitaram a cidade, depois de se reunir com o governador de Homs, e viajaram ao distrito de Baba Amr, um dos principais alvos das ações das forças de segurança. No local, os observadores foram cercados por residentes furiosos, que queriam mostrar os danos causados ao bairro e as poças de sangue, enquanto tiros eram disparados nas proximidades.

Vídeos mostram moradores discutindo com os monitores, tentando levá-los para dentro de Baba Amr para ver as vítimas e gritando "queremos proteção internacional" e "onde está o mundo?". Há relatos de mais violência em Homs, mesmo durante a presença dos observadores.

Os Comitês de Coordenação Local da Síria, que são um grupo de oposição, afirma que, ontem, 13 pessoas foram mortas na cidade de Homs.

Otimismo

O chefe dos monitores, o general sudanês Mustafa Dabi, disse estar otimista com a missão. "Hoje foi muito bom, e todos os lados colaboraram", disse ele à agência "Reuters".

A caminho de Damasco, Dabi disse que voltará a Homs hoje. Segundo ele, o restante da equipe permanecerá na cidade.

Os resultados da inspeção mostraram à equipe o quão complexa é a situação na Síria. Os números de mortos e informações relativas aos confrontos na Síria são difíceis de verificar, já que jornalistas estrangeiros são proibidos de atuar no país.

Assad afirma que está combatendo terroristas armados, e que centenas de integrantes das forças de segurança também foram mortos nos protestos.

A missão da Liga Árabe, que deve chegar de 200 a 300 monitores, vai verificar se o governo está cumprindo a promessa de retirar todas as suas tropas das ruas nas áreas de conflito.

Facções entram em conflito no Iêmen

Sanaa Críticos e defensores de um plano para facilitar a saída do poder do ditador do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, confrontaram-se, ontem, com pedradas e pauladas.

O governo norte-americano informou que está avaliando uma solicitação feita por Saleh para viajar aos Estados Unidos.

Jovens ativistas, que há meses lideram os protestos contra o governo de Saleh - há 33 anos no poder - estão divididos sobre deixá-lo sair do país. Eles dizem que isso pode abrandar o conflito, mas também deixá-lo escapar da Justiça.

O ditador iemenita curvou-se a meses de protestos e de pressão internacional ao concordar, em novembro, com um pacto que lhe garante imunidade na Justiça com relação à repressão violenta ao levante, ao mesmo tempo em que prevê que entregue o poder a seu vice.

Longe de resolver a crise, o acerto provocou novas tensões entre os grupos que se opõem ao acordo de imunidade e os que o apoiam o ditador - muitos dos quais fazem parte de um governo interino.

Ativistas afirmam que ao menos 20 pessoas ficaram feridas nos confrontos na capital do país, Sanaa, ontem entre os simpatizantes do partido Islah, que apoiaram o acordo, e o movimento Houthi, o agrupamento rebelde xiita no norte do Iêmen.

Al Qaeda

O governo dos EUA e a Arábia Saudita, que faz fronteira com o Iêmen, temem que o caos prolongado possa permitir que a Al Qaeda reforce a sua presença no país, situado nas proximidades de importantes rotas marítimas do petróleo.

Depois de outra ação violenta no sábado - quando, segundo os manifestantes, as forças de Saleh mataram nove pessoas que participavam de uma marcha contra o acordo de imunidade -, o ditador prometeu abrir caminho a um sucessor e partir para os EUA.

Um porta-voz da Casa Branca disse na segunda-feira que o governo norte-americano está decidindo se permite que Saleh viaje aos Estados Unidos. A autorização para isso poderia abalar as mensagens de apoio de Barack Obama aos movimentos pró-democracia no mundo árabe e a condenação norte-americana à repressão contra protestos.

´Revolução árabe´ era previsível

Em apenas um ano, o mundo árabe viveu mais distúrbios que durante décadas: depois de derrubar dirigentes, os tunisianos e os egípcios acabam de organizar as primeiras eleições livres de sua história e os líbios buscam instalar a democracia depois da queda de Muammar Kadafi. Os iemenitas estão a ponto de deixar para trás um regime autocrático, enquanto na Síria a revolta contra Bashar al Assad recebe apoio da Liga Árabe e da comunidade internacional.

Para o sociólogo e especialista em mundo árabe Lejeune Mirhan, as revoluções no mundo árabe eram de certa forma previsíveis, mas surpreenderam pela intensidade e pela rapidez com que aconteceram ao longo de 2011. "Nós sabíamos que havia um movimento de oposição em todos os países árabes. Somado com esse movimento oposicionista, a crise econômica que assola o mundo também assola o Oriente", explicou Mirhan.

O analista vê relação entre os distúrbios nos países árabes com os protestos, também em 2011, dos "indignados" da Espanha e do Ocupe "Wall Street" dos EUA.

"A raiz econômica é a mesma. Esse pessoal não fala contra o capitalismo de uma forma geral. Fala contra o capitalismo financeiro. Tanto quanto o ´Ocupe Wall Street´, quando os ´indignados´ da Espanha, como os jovens da Praça Tahrir, o índice de desemprego na população mais jovem é muito alto".

O sociólogo considera que, como há uma revolução ainda em curso, não se sabe aonde esses países vão chegar. "Imaginamos que possam ser formados governos democráticos, progressistas e nacionalistas no mundo. Porque hoje a maioria desses governos é pró-Estados Unidos e pró-Israel".

Para Mirhan, a revolução vai se estender a outros países e o último a passar por esse processo deve ser a Arábia Saudita. "A Arábia Saudita é a monarquia mais absolutista e mais pró-americana do Oriente Médio. No contorno dela chegou ao Bahrein, Omã, Catar, Iêmen".

Mirhan prefere utilizar a expressão "revolução árabe" em lugar de "primavera árabe", termo que considera uma invenção que não exprime com exatidão o atual momento. "Não é uma revolta, nem uma rebelião. É uma revolução. Tem muitos aspectos a serem considerados, cada país tem uma variante, tem uma liderança", avalia. Ele destaca a experiência recente do Líbano, que não passa por um levante, e é governado por uma coligação que une da esquerda ao centro.
Postada:Gomes Silveira
Fonte:Diário do Nordeste

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